sexta-feira, 27 de agosto de 2010
O PAPEL DOS INTELECTUAIS NA SOCIEDADE
Todo aquele que domina o instrumental técnico da linguagem e com ele constrói representações acerca do mundo, faz parte de uma pequena elite que ocupa espaço privilegiado na sociedade, posicionando-se como agente transformador do discurso, decidindo o que deve ser dito bem como seu lugar na escala de importância e competência.
Dessa forma, aquele que tem voz usufrui a liberdade de construir os símbolos e celebrar seus valores.
Por outro lado, o fato de se fazer parte do grupo que domina o discurso, necessariamente confirma o seu oposto: a existência dos excluídos, dos marginais, dos impossibilitados de se fazerem representar.
Os detentores do discurso “legítimo” estão sempre lembrando a esses outros de que não possuem nem espaço nem voz, logo estão condenados a não compartilhar e celebrar o código dessa minoria.
De alguma forma usurpam e aviltam o ser, retirando-lhe a voz e o direito de participar efetivamente dos ritos sociais.
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quarta-feira, 21 de julho de 2010
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
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terça-feira, 13 de julho de 2010
Enamoramento e amizade
Eu comparo a amizade a uma forma de amor com a qual, na maioria das vezes, é confundida ao enamoramento. O enamoramento é um fato, um acontecimento que tem início definido.
Em sua origem há o estado nascente, uma fulguração, uma revelação. A amizade, porém, não se materializa com uma revelação única inicial, mas com uma série de encontros e de aprofundamentos sucessivos. Outra diferença entre enamoramento e amizade é que não existe um enamoramento verdadeiro e menos verdadeiro. Não há graus de enamoramento: muitíssimo, muito, bastante, um pouco.
Quando digo "estou enamorado", digo tudo. O enamoramento segue a lei do tudo ou nada. A amizade, no entanto, tem muitas formas e muitos grau: vai desde um mínimo até um máximo de perfeição.
A amizade pode ser pequena, apenas um movimento da alma, ou então grande, grandíssima. O enamoramento é perfeito desde o início. A amizade, porém, vai na direção do mais. Quando falo de amizade tenho também sempre em mente um ideal, uma utopia. O enamoramento é uma paixão.
Em alemão, paixão é Leidenschaft. Leiden é o sofrimento. Na paixão, de fato, também há sempre de sofrer.
O enamoramento é êxtase, mas também tormento. A amizade, porém, tem horror ao sofrimento.
Quando pode, evita-o Os amigos procuram-se para se sentirem bem juntos. Se não conseguem, tendem a afastar-se, a pôr um pouco de distância entre eles.
Outra diferença fundamental é que posso enamorar-me de alguém e não ser correspondido. Nem por isso deixo de estar enamorado.
O enamoramento nasce sem reciprocidade qualquer. Não fico sendo amigo de alguém que não seja meu amigo.
No enamoramento é sempre terrível deixar quem amamos.
Para livrar-me de um enamoramento não correspondido, preciso exercer uma violência sobre mim mesmo, odiar o outro.
Mas o ódio pelo amado é, por sua vez, um sofrimento, o mais atroz dos sofrimentos. Na amizade, porém, não há espaço para o ódio.
Se odeio um amigo, já não sou seu amigo, a amizade terminou.
Postado por Sinnerman às 20:08 0 comentários
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade.
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